Ansiedade e Espontaneidade: Como se relacionam?
- Synara de Almeida
- 3 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de ago.
A ansiedade é uma resposta emocional caracterizada por uma sensação vaga, difusa e desagradável de apreensão, frequentemente acompanhada por sintomas físicos como aumento da frequência cardíaca, alterações na respiração, tensão muscular, sudorese, tremores e inquietação. Trata-se de um componente natural do sistema de defesa do organismo, funcionando como um sinal de alerta diante de uma ameaça percebida (real ou antecipada), mobilizando o indivíduo para a ação, seja por meio da evitação, da fuga ou do enfrentamento da situação.
Sentir ansiedade é normal e necessário. Ela tem a função adaptativa e de proteção.
No entanto, a ansiedade pode se tornar um sofrimento quando perde sua função adaptativa. Algumas pessoas têm maior predisposição biológica à ansiedade desregulada. Além disso, experiências de vida (como traumas, violências, perdas ou relações marcadas por insegurança) podem deixar o corpo e a mente em alerta constante, sempre antecipando que algo ruim pode acontecer.
Afinal, minha ansiedade é normal?
Nem toda ansiedade é um problema. Em momentos de mudança, como uma nova etapa profissional, o fim de um relacionamento ou a chegada de um projeto importante é esperado que a ansiedade apareça. Ela nos ajuda a estar mais atentos e preparados.
Mas, quando ela começa a limitar a vida como evitar lugares, pessoas ou situações por medo de errar, ser julgado ou fracassar é hora de buscar ajuda. A ansiedade desadaptada costuma vir acompanhada de uma autocrítica severa, uma visão distorcida de si mesmo e do mundo. Nessas situações, o sofrimento é real e merece acolhimento.
Ansiedade e espontaneidade: o que o psicodrama nos ensina
No psicodrama, a ansiedade é compreendida como um efeito da perda da espontaneidade. Ou seja, não é a ansiedade que impede a espontaneidade, mas sim a diminuição significativa da nossa capacidade espontânea que faz com que a ansiedade apareça.
Espontaneidade, nesse contexto, não significa impulsividade, mas sim a capacidade de agir de forma criativa, adequada e autêntica diante das situações da vida. É uma função essencial da saúde psíquica e se expressa quando conseguimos estar presentes, coerentes entre o que sentimos, pensamos e fazemos.
A palavra “espontaneidade” tem origem no latim sponte, que significa “livre vontade”. Ela é vivida como um estado de liberdade, de influências externas e também das internas que não conseguimos controlar.
Segundo J. L. Moreno, criador do psicodrama, espontaneidade é "a resposta nova para uma situação antiga ou uma resposta adequada para uma situação nova". Em psicoterapia, buscamos entender por que essa função inata pode estar bloqueada e criar caminhos para que ela possa se manifestar novamente.
Ansiedade e espontaneidade são forças que nos colocam em movimento
Ansiedade e espontaneidade são forças que nos colocam em movimento, mas por caminhos diferentes. A ansiedade surge da preocupação com o que pode acontecer, ela pode nos preparar para agir, mas também pode nos imobilizar quando se torna excessiva. Já a espontaneidade é a capacidade de agir de forma presente e ajustada à realidade, com criatividade e equilíbrio, mesmo diante da incerteza.
Em situações cotidianas, como um jantar especial ou uma entrevista de emprego, é natural que a ansiedade apareça: queremos causar uma boa impressão, fazer o melhor possível. Quando conseguimos acessar a espontaneidade, essa preocupação não nos bloqueia ela se transforma em ação cuidadosa. Escolhemos a roupa com atenção, nos preparamos com carinho para o momento, nos organizamos para chegar no horário. A espontaneidade permite que, mesmo com ansiedade, estejamos inteiros na experiência.
Reconhecer que errar faz parte do caminho, que nem tudo sairá como planejamos e que os relacionamentos podem, sim, terminar, é parte da vida adulta. O importante é que a preocupação não nos impeça de estar em contato conosco e com o outro. Que a tensão não nos roube o prazer. Que a expectativa não apague a confiança. Porque mesmo quando algo dá errado, ainda assim é possível encontrar sentido, aprender e continuar.