"Sempre me preparo para o pior" – e o que o Psicodrama tem a dizer sobre isso?
- Synara de Almeida
- 29 de jul.
- 2 min de leitura
Em muitos atendimentos escuto frases como: “eu sempre me preparo para o pior”. A intenção parece ser a de estar pronto, evitar surpresas dolorosas e não ser pego desprevenido. Mas será que isso realmente prepara alguém? Ou apenas congela a vida em um estado de vigilância, tensão e repetição?
No Psicodrama, chamamos de aquecimento o processo de preparação emocional, corporal e psíquica para entrar em ação. Aquecer é abrir caminhos para que a pessoa se conecte com seus sentimentos, papéis e possibilidades. É uma etapa fundamental para que a espontaneidade possa surgir.
Mas atenção: espontaneidade não é impulsividade, nem improviso desorganizado. Espontaneidade, no Psicodrama, é a capacidade de responder de forma nova a uma situação antiga, ou de forma adequada a uma situação nova. É essa qualidade que nos dá flexibilidade diante da vida — inclusive nos momentos difíceis.
Dizer “me preparo para o pior” geralmente revela uma forma de aquecimento que aprisiona. Em vez de abrir possibilidades, fecha. Em vez de promover presença, nos desloca para um futuro temido. É um aquecimento que paralisa. Um preparo baseado no medo, e não na confiança.
No Psicodrama, saúde psíquica está intimamente ligada à capacidade de entrar em ação com espontaneidade e criatividade, mesmo quando o cenário é desafiador. Isso não significa negar riscos ou dores. Significa construir um repertório interno que nos permita lidar com o inesperado com mais elasticidade.
Preparar-se, sim — mas não para o pior. Preparar-se para estar inteiro. Para sentir, pensar e agir com presença.
Você já se perguntou qual é o tipo de “preparo” que tem feito para enfrentar a vida? Seu aquecimento promove mais rigidez ou mais abertura? Você se prende a velhas estratégias defensivas, ou consegue experimentar respostas novas, mais autênticas, mesmo nas dificuldades?

