A "Ressaca Emocional" na Psicoterapia: o que acontece com o corpo e como se cuidar
- Synara de Almeida
- 5 de set.
- 3 min de leitura
É comum que, após uma sessão de psicoterapia intensa, o paciente relate uma sensação de cansaço profundo, sensibilidade aumentada ou até sintomas físicos como dor de cabeça e alterações no sono. Muitas pessoas descrevem isso como uma espécie de "ressaca emocional".
O que acontece com o corpo?
Durante a sessão de psicoterapia, ao acessar memórias, sentimentos ou conflitos internos, não estamos apenas lembrando de algo que ficou no passado: o corpo revive registros emocionais e corporais que permanecem presentes. Na linguagem da neurociência, as redes que guardam essas experiências são reativadas, trazendo consigo as mesmas respostas fisiológicas que um dia foram mobilizadas. Assim, aquilo que emerge não é uma “simulação”, mas uma experiência real, atualizada no aqui‑agora da relação terapêutica.
Pesquisadores como Gabor Maté destacam que corpo, mente e emoção são inseparáveis: traumas e vivências precoces não ficam apenas na memória cognitiva, mas inscritos na fisiologia — na tensão muscular, na respiração, nos batimentos cardíacos, na liberação de hormônios do estresse como o cortisol. Ao trazer esses conteúdos para a consciência em um espaço seguro, ocorre uma forma de realidade suplementar, em que a pessoa pode reorganizar e dar novos significados a experiências antigas.
Depois dessa ativação intensa, o organismo inicia um processo de autorregulação e integração. Essa travessia pode gerar fadiga, maior necessidade de repouso ou uma sensibilidade emocional mais aguçada. Longe de ser um sinal de fragilidade, trata‑se de um movimento natural de reorganização, em que corpo e mente trabalham juntos para encontrar um novo equilíbrio.
Por que isso é importante?
A ressaca emocional não é sinal de que a terapia “fez mal” ou de que houve algo errado. Ao contrário: mostra que houve contato com conteúdos significativos, que agora estão sendo integrados pelo corpo e pela mente. É semelhante ao que acontece após um exercício físico intenso: os músculos podem doer, mas isso faz parte do processo de fortalecimento.
Como se cuidar nesses momentos
Algumas estratégias simples podem ajudar a atravessar esses efeitos de forma mais suave:
Descanso: respeite a necessidade de dormir mais cedo ou fazer pausas ao longo do dia.
Hidratação: beber bastante água ajuda na regulação do organismo.
Alimentação leve: prefira refeições nutritivas e de fácil digestão.
Movimento suave: caminhadas leves, contato com a natureza, alongamentos ou práticas de relaxamento podem aliviar tensões.
Expressão criativa: escrever, ouvir música ou desenhar pode auxiliar na elaboração emocional.
Rituais de fechamento: tomar um chá, acender uma vela ou fazer um breve exercício de respiração pode ajudar a marcar o fim da sessão e facilitar a transição para a vida cotidiana.
Outras dicas
Depois da sessão, mesmo com os cuidados aqui sugeridos, se você perceber que o incômodo persiste de forma intensa, converse com a profissional que te acompanha na próxima sessão para vocês pensarem juntos em estratégias de regulação para durante e depois dos atendimentos. Cada pessoa tem seu próprio jeito de se cuidar, e parte do processo psicoterapêutico é descobrir o que funciona melhor para cada paciente.
Na medida do seu possível busque tratar esses dias seguintes como um tempo de integração, como uma pausa que permite que o que foi mexido na psicoterapia encontre um lugar novo dentro de você.
Conclusão
Sentir uma ressaca emocional após a psicoterapia é um sinal de que um trabalho interno profundo está em andamento. Acolher esses efeitos com cuidado e autocompaixão faz parte do processo de cura e crescimento. Cada corpo responde de um jeito, e parte da jornada terapêutica é aprender a reconhecer as próprias necessidades de descanso, expressão e integração.


